quinta-feira, 30 de abril de 2020

A confusão da ideologia partidária do Brasil


Nos últimos anos ficou comum a alcunha pejorativa dos partidos políticos e até mesmo dos seus eleitores, tais como: “esquerdista safado”, jumento, gado, direitista fascista etc. Todavia, muitas vezes as ofensas acontecem sem a compreensão dos termos corretos, tão quanto a diversidade de posições que existem entre os dois polos do espectro político nacional.
O termo esquerda e direita surgiram na França na época da Revolução Francesa, quando os membros da Assembleia Nacional se sentavam em grupos conforme a ideologia dominante, assim os conservadores que apoiavam o rei ficavam à direita e o grupo simpatizantes da revolução e presidente à esquerda.
 Todavia, como todo e qualquer conceito, essa divisão ideológica dos partidos políticos sofreu mudanças de acordo com as mudanças das sociedades e a geopolítica mundial. Durante a Guerra a Fria, o mundo polarizado entre as duas potências EUA (capitalista) e URSS (comunista) praticamente impôs uma dualidade, ou seja, praticamente tínhamos os defensores do capitalismo ou do comunismo, porém com o fim do bloco soviético e a derrocada do comunismo novos cenários surgiram.
Assim como, o mundo ganhou um cenário multipolar, ainda que os EUA sobressaiam como única superpotência mundial, o Brasil saiu da ditadura militar e ganhou novos partidos, inclusive aqueles que defendiam o comunismo, os quais estavam atuando clandestinamente devido a proibição e perseguição durante os governos de Getúlio Vargas e os militares (1964-1985).
Desta forma, o Brasil saltou de dois partidos (ARENA e PMDB) no início da década de 1980 para 33 em 2020 e ainda conta mais de 70 em processo de formação deles. Assim, saímos da dualidade partidária para um universo complexo de partidos com nomes exóticos ou uma confusa “sopa de letrinhas” que abreviam os grandes nomes das siglas.
Dentro dessa enorme variedade de partidos, temos também uma grande diversidade de ideologias, por isso, resumir esse espectro somente entre esquerda X direita é uma visão restritiva ou desconhecimento das vertentes existente.
Atualmente, a esquerda liga-se mais a questões sociais e trabalhistas, enquanto a direita apresenta um cunho de liberalismo econômico e conservadorismo, principalmente em questões que contemplam visões religiosas, mas entre as duas pontas desta régua (esquerda-direita), percorremos grupos extremos (esquerda e direita), centro-esquerda ou centro-direita ou centro.
Embora, tenhamos aqui usado uma forma de classificar os partidos em cinco grupos entre a extremas direita e extrema esquerda, devemos lembrar que entre as mais de três dezenas deles registrados no Brasil, podemos perceber ainda nuances distintas entre todos. Do mesmo modo, que internamente eles possam apresentar grupo de partidários com concordância em vários pontos, mas com divergência de ideias em outros, assim como o próprio partido pode apresentar algumas pautas mais sociais e outras liberais-conservadoras.
Normalmente mais abertos ao novo e menos ligados a pautas conservadoras, os partidos de esquerda brasileiros acabaram incluindo grupos normalmente minoritários e ou excluídos nas suas conhecidas ideologias de igualdade social e proteção do trabalhador. Por outro lado, o discurso da direita inclui o liberalismo econômico com a redução do Estado, autorregulação econômica e trabalhista, e conservadorismo baseado nos preceitos religiosos, no caso brasileiro o predomínio dos conceitos cristãos (católicos e protestantes).
 No entanto, os extremistas, tanto de esquerda quanto de direita, “tendem” a possuir uma visão mais “extrema” ou inflexível das suas posições, muitas vezes não respeitando as diferenças, negando as demais perspectivas e até agindo com violência contra os “adversários”, tais como o fizeram: Fulgencio Batista, Costa e Silva,  Pinochet, Hitler, Salazar e Mussolini (direita) ou Stalin, Lenin, Chaves, Maduro, Mao Tsé-Tung e Fidel (esquerda).
No Brasil o grupo do centro passou a ser confundido com a designação “CENTRÃO” adotada para indicar o grupo de congressistas e partidos que não seguem uma ideologia clara e muitas vezes sendo apontados por seguirem a lógica do “quem dá mais”, ou seja, flutuam entre apoio ou oposição ao governo conforme acordos envolvendo cargos políticos com acesso a recursos financeiros.
Portanto, além da confusão habitual que o brasileiro faz alocando todos os partidos de esquerda como comunistas, sendo que a maioria deles adotam uma ideologia social democrata e somente uma pequena parcela são seguidoras das mesmas visões de Marx, Stalin ou Castro, também confundem um posicionamento ponderado entre os dois blocos com o grupo denominado de “Centrão” e por fim, interpretam suas visões religiosas com a visão de cidadão, atuando quase de forma impositora sobre aqueles que não seguem a mesma fé, flertando com um Estado teocrático aos moldes dos aiatolás islâmicos do Irã.