Por: Luiz Henrique Análio Guimarães
INTRODUÇÃO
A Geopolítica sempre esteve presente nas relações humanas, desde
a sociedade mais primitiva existiam estratégias de controle e poder, por outro
lado a estruturação da mesma como ciência conota um período recente, porém esta
passa por um período singular, onde as estratégias de dominação não contemplam
o controle de extensos territórios, mas do controle de novas tecnologias, as
quais o Brasil caminha com certa distância.
A GEOPOLÍTICA NO BRASIL
Caracteriza-se a Geopolítica como um campo multidisciplinar do
conhecimento, devido à identificação com um diversificado grupo de disciplinas,
dentre elas: política, sociologia, estatística e economia. No entanto, foi sob
a ótica da geografia determinista de Ratzel e o conceito de “espaço vital” que
surgiram os preceitos, a qual posteriormente o sueco Kjellen utilizou pela
primeira vez o termo “Geopolítica”.
Deste modo, a Geopolítica nasce com um caráter
estratégico-militar, advindo da Geografia de Ratzel, a qual convalidava o plano
expansionista prussiano, porém as “novas” correntes geográficas se afastam dela,
citando neste caso a geografia possibilista do francês Vidal de La Blache, onde
a Geografia assume o caráter de ciência asséptica, ou seja, propõe-se a
despolitização do temário dessa disciplina.
No entanto, o “afastamento” da geografia em relação à Geopolítica
não significa, assim, o fim da segunda. A Geopolítica desenvolveu-se com saber
estratégico de dominação e poder. Porém Yves Lacoste, em seu livro A Geografia serve, antes de mais nada, para
fazer a guerra, afirma que existe a “Geografia dos Professores” e a
“Geografia dos Estados-Maiores”. Esta última feita, na prática, estabelecendo
estratégias de domínio do espaço, tanto pelo Estado, quanto pelas empresas
monopolistas.
Portanto, a Geopolítica ou a denominada “Geografia dos
Estados-Maiores” sempre “co-existiram” ligadas à prática do poder, haja vista,
que todo conquistador (Alexandre, Ahuizotl ou Hitler) sempre possui um projeto
com relação ao espaço. Por outro lado, os novos desdobramentos do capitalismo inserem
outras estratégias de domínio, onde a cultura, o capital e principalmente o
domínio tecnológico exercem o “protagonismo” das ações geopolíticas.
A partir dos conceitos de Lacoste pode-se concluir que a
Geopolítica sempre esteve presente no Brasil, mesmo antes da “descoberta”
portuguesa, fazendo parte das relações dos “primitivos” habitantes, tanto na
organização de suas sociedades, quanto nas relações com o território que
ocupavam para sobreviver, incluído neste as disputas com outros povos.
Após a chegada de Cabral, soma-se às questões já existentes no
que tange o atual território do Brasil, à política expansionista e exploratória
dos colonizadores, tecendo uma Geopolítica mais complexa, porém externa aos
interesses locais.
Os anos seguintes da colonização do país muitos fatos podem ser
relatados como exemplos de conceitos geopolíticos aplicados, porém não
interessa a este artigo o aprofundamento neste campo. No entanto, como de fato
relevante neste período podemos destacar obras literárias como: Iracema, José de Alencar e durante a
República Velha o livro Triste fim de
Policarpo Quaresma, Lima Barreto. Ambas exalam o nacionalismo, buscam uma
identidade brasileira em relação à “imposição” cultural européia.
Muitos outros buscaram reforçar uma identidade brasileira, Oswald
Andrade através do “Manifesto Antropofágico” destacou que não se deve negar a
cultura estrangeira, porém ela não deve ser imitada. Dentre os escritores
brasileiros, Monteiro Lobato foi além do campo literário, engendrou uma “luta”
pelo controle e exploração dos recursos naturais, principalmente o petróleo e o
ferro, assim como pregava o desenvolvimento industrial como forma de superar a
dependência econômica da nação.
O século XX viu o país
instituir várias estratégias geopolíticas, dentre elas: adoção da
industrialização como fator de desenvolvimento, a participação tímida nas duas
grandes guerras. Por outro lado, foi manipulado nas ações norte-americanas que
resultaram no golpe militar de 1964.
Atualmente, muitas ações indicam a aplicação da Geopolítica no
governo brasileiro, tais como: implantação do Sistema de Vigilância da Amazônia
(SIVAM), participação na força de paz do Haiti, compra de equipamentos
militares franceses, projeto FX2, engajamento nas questões políticas
sul-americanas, aproximação comercial com o continente africano e Oriente –
Médio, assim como busca de apoio internacional para conquista de uma “cadeira”
permanente no Conselho de Segurança da ONU.
No entanto, a Geopolítica alicerçada no domínio de território,
tal qual Ratzel propôs já não se faz pertinente, a colonização territorial além
de custosa traria um enorme entrave político na atualidade.
A globalização inseriu um novo contexto na Geopolítica, tendo
como base o domínio tecnológico como centro do poder, assim aquele que detém os
“Royalties” ou exclusividade de importantes tecnologias dominam os demais.
O Geógrafo Milton Santos em um dos seus artigos publicados pelo
jornal Folha de São Paulo, veiculado em 16 de agosto de 1984, afirma: “A pesquisa é considerada como tão ou mais
importante que o território e a população, entre os instrumentos nacionais de
formulação eficaz de um planejamento estratégico ou de uma geopolítica”.
Quando Santos discute a política nacional de desenvolvimento científico e
tecnológico, perfazendo uma análise, do ainda diminuto investimento, quanto das
áreas contempladas.
O Brasil conseguiu fugir das enormes dívidas externas que
engessavam os investimentos socioeconômicos, empresas estatais e privadas
disputam o mercado internacional com destaque, desenvolveu tecnologias de
prospecção de petróleo em águas profundas, avançou em pesquisas espaciais e
nucleares. Porém, o investimento em pesquisa e tecnologia continua
substancialmente inferior ao dos países desenvolvidos, numa proporção de 1% do
PIB para os brasileiros e 3% do PIB para as nações desenvolvidas, resultando em
um avanço tecnológico tardio e restrito ao país.
A educação, que deveria “abastecer” as universidades e centros
tecnológicos com pessoas preparadas, evolui ao passo de “tartaruga”. Segundo
ainda, relatório de janeiro de 2010 da Unesco, o país detém os piores índices
educacionais da América Latina, um sério “gargalo” para o crescimento da
economia.
Portanto, embora a Geopolítica seja uma ciência relativamente
nova, não se pode negar que seus preceitos são utilizados a milhares de anos
como forma de controle da população e domínio do território, mesmo na América
“primitiva”, a qual permaneceu distante da cultura ocidental européia por
séculos.
Contudo, mesmo com esses conhecimentos seculares, o Brasil mantém
estratégias equivocadas na sua Geopolítica, a busca incessante de adquirir um
acento no Conselho de Segurança da ONU “justifica” o reconhecimento equivocado
da China como economia de mercado, inundado o país de produtos chineses, sem
que possamos utilizar ferramentas legais para proteção das companhias
brasileiras.
Por outro lado, áreas estratégicas ficam “jogadas” a própria
sorte, os investimentos em educação, pesquisas e centros tecnológicos ficam
aquém do que possa colaborar com uma autonomia do país em tecnologia
estratégica para o seu desenvolvimento. Mesmo setores onde o país possui o
reconhecimento internacional há muito para se avançar, como é o caso do setor
aeroespacial, o qual 85% das peças utilizadas pela Embraer são importadas,
principalmente aquelas de maior tecnologia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTOS, Milton. O País distorcido, 1ª edição. São Paulo:
Publifolha, 2002
MORAES, Antonio C. Robert. GEOGRAFIA, Pequena história crítica.
São Paulo: Hucitec, 1994.
WIKIPEDIA, A enciclopédia livre: 2010. Artigos relacionados:
Geopolítica, Movimento Antropofágico, José de Alencar, Semana da Arte Moderna e
O Petróleo é nosso.