quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A EQUIVOCADA ESTRATÉGIA GEOPOLÍTICA BRASILEIRA


Por: Luiz Henrique Análio Guimarães


INTRODUÇÃO

 A Geopolítica sempre esteve presente nas relações humanas, desde a sociedade mais primitiva existiam estratégias de controle e poder, por outro lado a estruturação da mesma como ciência conota um período recente, porém esta passa por um período singular, onde as estratégias de dominação não contemplam o controle de extensos territórios, mas do controle de novas tecnologias, as quais o Brasil caminha com certa distância.


  
A GEOPOLÍTICA NO BRASIL


Caracteriza-se a Geopolítica como um campo multidisciplinar do conhecimento, devido à identificação com um diversificado grupo de disciplinas, dentre elas: política, sociologia, estatística e economia. No entanto, foi sob a ótica da geografia determinista de Ratzel e o conceito de “espaço vital” que surgiram os preceitos, a qual posteriormente o sueco Kjellen utilizou pela primeira vez o termo “Geopolítica”.
Deste modo, a Geopolítica nasce com um caráter estratégico-militar, advindo da Geografia de Ratzel, a qual convalidava o plano expansionista prussiano, porém as “novas” correntes geográficas se afastam dela, citando neste caso a geografia possibilista do francês Vidal de La Blache, onde a Geografia assume o caráter de ciência asséptica, ou seja, propõe-se a despolitização do temário dessa disciplina.
No entanto, o “afastamento” da geografia em relação à Geopolítica não significa, assim, o fim da segunda. A Geopolítica desenvolveu-se com saber estratégico de dominação e poder. Porém Yves Lacoste, em seu livro A Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra, afirma que existe a “Geografia dos Professores” e a “Geografia dos Estados-Maiores”. Esta última feita, na prática, estabelecendo estratégias de domínio do espaço, tanto pelo Estado, quanto pelas empresas monopolistas.
Portanto, a Geopolítica ou a denominada “Geografia dos Estados-Maiores” sempre “co-existiram” ligadas à prática do poder, haja vista, que todo conquistador (Alexandre, Ahuizotl ou Hitler) sempre possui um projeto com relação ao espaço. Por outro lado, os novos desdobramentos do capitalismo inserem outras estratégias de domínio, onde a cultura, o capital e principalmente o domínio tecnológico exercem o “protagonismo” das ações geopolíticas.
A partir dos conceitos de Lacoste pode-se concluir que a Geopolítica sempre esteve presente no Brasil, mesmo antes da “descoberta” portuguesa, fazendo parte das relações dos “primitivos” habitantes, tanto na organização de suas sociedades, quanto nas relações com o território que ocupavam para sobreviver, incluído neste as disputas com outros povos.
Após a chegada de Cabral, soma-se às questões já existentes no que tange o atual território do Brasil, à política expansionista e exploratória dos colonizadores, tecendo uma Geopolítica mais complexa, porém externa aos interesses locais.
Os anos seguintes da colonização do país muitos fatos podem ser relatados como exemplos de conceitos geopolíticos aplicados, porém não interessa a este artigo o aprofundamento neste campo. No entanto, como de fato relevante neste período podemos destacar obras literárias como: Iracema, José de Alencar e durante a República Velha o livro Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto. Ambas exalam o nacionalismo, buscam uma identidade brasileira em relação à “imposição” cultural européia.
Muitos outros buscaram reforçar uma identidade brasileira, Oswald Andrade através do “Manifesto Antropofágico” destacou que não se deve negar a cultura estrangeira, porém ela não deve ser imitada. Dentre os escritores brasileiros, Monteiro Lobato foi além do campo literário, engendrou uma “luta” pelo controle e exploração dos recursos naturais, principalmente o petróleo e o ferro, assim como pregava o desenvolvimento industrial como forma de superar a dependência econômica da nação.
 O século XX viu o país instituir várias estratégias geopolíticas, dentre elas: adoção da industrialização como fator de desenvolvimento, a participação tímida nas duas grandes guerras. Por outro lado, foi manipulado nas ações norte-americanas que resultaram no golpe militar de 1964.
Atualmente, muitas ações indicam a aplicação da Geopolítica no governo brasileiro, tais como: implantação do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), participação na força de paz do Haiti, compra de equipamentos militares franceses, projeto FX2, engajamento nas questões políticas sul-americanas, aproximação comercial com o continente africano e Oriente – Médio, assim como busca de apoio internacional para conquista de uma “cadeira” permanente no Conselho de Segurança da ONU.
No entanto, a Geopolítica alicerçada no domínio de território, tal qual Ratzel propôs já não se faz pertinente, a colonização territorial além de custosa traria um enorme entrave político na atualidade.
A globalização inseriu um novo contexto na Geopolítica, tendo como base o domínio tecnológico como centro do poder, assim aquele que detém os “Royalties” ou exclusividade de importantes tecnologias dominam os demais.
O Geógrafo Milton Santos em um dos seus artigos publicados pelo jornal Folha de São Paulo, veiculado em 16 de agosto de 1984, afirma: “A pesquisa é considerada como tão ou mais importante que o território e a população, entre os instrumentos nacionais de formulação eficaz de um planejamento estratégico ou de uma geopolítica”. Quando Santos discute a política nacional de desenvolvimento científico e tecnológico, perfazendo uma análise, do ainda diminuto investimento, quanto das áreas contempladas.
O Brasil conseguiu fugir das enormes dívidas externas que engessavam os investimentos socioeconômicos, empresas estatais e privadas disputam o mercado internacional com destaque, desenvolveu tecnologias de prospecção de petróleo em águas profundas, avançou em pesquisas espaciais e nucleares. Porém, o investimento em pesquisa e tecnologia continua substancialmente inferior ao dos países desenvolvidos, numa proporção de 1% do PIB para os brasileiros e 3% do PIB para as nações desenvolvidas, resultando em um avanço tecnológico tardio e restrito ao país.
A educação, que deveria “abastecer” as universidades e centros tecnológicos com pessoas preparadas, evolui ao passo de “tartaruga”. Segundo ainda, relatório de janeiro de 2010 da Unesco, o país detém os piores índices educacionais da América Latina, um sério “gargalo” para o crescimento da economia.


 CONCLUSÃO

 Portanto, embora a Geopolítica seja uma ciência relativamente nova, não se pode negar que seus preceitos são utilizados a milhares de anos como forma de controle da população e domínio do território, mesmo na América “primitiva”, a qual permaneceu distante da cultura ocidental européia por séculos.
Contudo, mesmo com esses conhecimentos seculares, o Brasil mantém estratégias equivocadas na sua Geopolítica, a busca incessante de adquirir um acento no Conselho de Segurança da ONU “justifica” o reconhecimento equivocado da China como economia de mercado, inundado o país de produtos chineses, sem que possamos utilizar ferramentas legais para proteção das companhias brasileiras.
Por outro lado, áreas estratégicas ficam “jogadas” a própria sorte, os investimentos em educação, pesquisas e centros tecnológicos ficam aquém do que possa colaborar com uma autonomia do país em tecnologia estratégica para o seu desenvolvimento. Mesmo setores onde o país possui o reconhecimento internacional há muito para se avançar, como é o caso do setor aeroespacial, o qual 85% das peças utilizadas pela Embraer são importadas, principalmente aquelas de maior tecnologia.

  
  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, Milton. O País distorcido, 1ª edição. São Paulo: Publifolha, 2002
MORAES, Antonio C. Robert. GEOGRAFIA, Pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1994.
WIKIPEDIA, A enciclopédia livre: 2010. Artigos relacionados: Geopolítica, Movimento Antropofágico, José de Alencar, Semana da Arte Moderna e O Petróleo é nosso.

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